quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Quimioterapia

A descoberta de Fármacos
           
As origens da quimioterapia para o cancro assentam no uso de guerra biológica durante a Primeira Guerra Mundial, descrita de forma bela mas triste no poema de Wilfred Owen, “Dulce et decorum est”. Após o extenso uso de gás de cloro na guerra de trincheiras, o exercito alemão libertou pela primeira vez o gás mostarda em Ypres, na noite de 12 para 13 de Julho de 1917. O gás mostarda tinha sido sintetizado em 1854 por Victor Meyer e descobriu-se que era um vesicante em 1887. Como arma de destruição maciça, o gás mostarda, ou Yperite como era conhecido na altura, tinha as vantagens sobre o cloro de necessitar de doses mais pequenas, de ser praticamente inodoro e de permanecer activo nos solos durante semanas. De entre as mortes provocadas por gás no exercito britânico, de 1914 a 1918, o maior número foi devido ao gás mostarda. A exposição ao gás mostarda provoca um eritema grave com formação de bolhas e conjuntivite, seguido por lielossupressão cerca de 4 dias depois. Durante a Segunda Guerra Mundial, o único uso do gás mostarda resultou num autogolo, quando a Luftwaffe afundou o USS John Harvey ao Laro do porto de Bari, no Sul de Itália, em 1943. O navio carregava 2000 bombas M47A1 contendo um total de 100 toneladas de gás mostarda, e os marinheiros americanos que sobreviveram ao incidente desenvolveram conjuntivite e bolhas na pele, seguidas por uma diminuição abrupta nas contagens de células brancas, como documentado pelo cirurgião naval, o Coronel Stewart Alexander. Entretanto, na Universidade de Yale, Alfred Gilman e Louis Goodman estavam a usar a mostarda nitrogenada (mecloretamina), que é muito semelhante, inicialmente em modelos murinos de linfoma. Em 1944, o primeiro paciente com linfossarcoma (Linfoma não-Hodgkin de alto grau) foi tratado, e apesar de o Sr. JD, um ourives de 48 anos, ter conseguido uma remissão temporária do seu tumor, morreu mais tarde de insuficiência da medula óssea.
O desenvolvimento subsequente da quimioterapia, após este achado fortuito como um subproduto da guerra biológica, deve muito à sorte e tentativa e erro, mais do que ao planeamento. Uma feliz descoberta dói feita por acaso por Barnett Rosenverg um médico da Universidade do Estado do Michigan, em E.coli, usando eléctrodos de platina num meio líquido. Rosenberg descobriu que as bactérias paravam de se dividir mas continuavam a crescer, formando bactérias até 300 vezes maiores que o normal. Descobriu-se que isto era devido à cisplatina, um produto dos eléctrodos de platina, que estava a interferir com a replicação do ADN. No final dos anos 1960, tinham sido identificados vários fármacos citotóxicos de fontes naturais. Em 1971, o presidente Nixon, estando a perder a guerra do Vietname, declarou guerra ao cancro, assinando o Cancer Act e estabelecendo um programa de descoberta de fármacos no Instituto Nacional de Cancro. Este projecto analisou milhares de químicos naturais na procura de potenciais agentes citotóxicos. Só pelos anos 1990 é que emergiu o fabrico racional de fármacos para atingir as características conhecidas relacionadas com os tumores. Exemplos disto incluem o trastuzumab, um anticorpo monoclonal produzido contra o erbB2/neu/Her-2 no cancro da mama, e o imatinib, que inibe o local de ligação ao ATP da proteína de fusão brc-abl na leucemia mielóide crónica.


Adaptado para o blog por Mark Simões

Sem comentários:

Enviar um comentário