quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Uma curta história epidemiológica do consumo do tabaco e o cancro

O tabaco, juntamente com a sífilis e as batatas, foi um dos “presentes” do Novo Mundo para o Velho. A nicotina recebeu o seu nome de Jean Nicot, um embaixador francês em Lisboa do século XV, que era um grande partidário do acto de fumar e que, em 1559, enviou tabaco para Catarina de Médici, a então rainha de França. O tabaco foi subsequentemente introduzido em Inglaterra, em 1586, por sir Walter Raleigh. O consumo do tabaco foi activamente encorajado na Guerra dos Trinta Anos, nas campanhas napoleónicas, na Guerra da Crimeia e, com mais notoriedade, na Primeira Guerra Mundial. O consumo do tabaco reduz o medo e a ansiedade e suprime o apetite, e estes efeitos foram considerados benéficos para os soldados.

Ligações epidemiológicas iniciais a cancros não pulmonares
Em 1961, John Hill, um médico de Londres, relatou vários casos de cacnro nasal entre os grandes utilizadores de tabaco por inalação e, em 1795, Thomas van Soemmering sugeriu uma ligação entre fumar cachimbo e o cancro do lábio. Ulysses S.Grant, general ianque na guerra civil americana e posteriormente presidente dos EUA, morreu em 1885 de cancro da garganta, que foi atríbuido aos seus charutos. Num artigo estudo de coorte nos anos 1920, o Dr. R. Abbe observouque em 90 pacientes com cancro oral 89 eram fumadores.

Ligações epidemiológicas com o cancro do pulmão
Em 1939, o Dr. Franz Müller, da Unervisidade de Colónia, realizou o que é geralmente reconhecido como o mais antigo estudo de caso-controlo sobre fumar, que mostrou que uma proporção muito elevada de pacientes com cancro do pulmãoeram grandes fumadores. Contudo, os resultados foram descartados como pouco fiáveis, porque Hitler era um antifumador fanático e tinha influenciado os resultados. Pouco tempo após a Segunda Guerra Mundial, numa altura em que 90% dos adultos do sexo masculino do Reino Unido fumavam, Austin Bradford Hill, Edward Kennaway, Percy Stock e Richard Doll resolveram investigar as ligações entre fumar e o cancro do pulmão, usando uma estratégia de dose-resposta num caso-controlo. O seu estudo de caso-controlo foi realizado em 1948 em 20 hospitais londrinos, entrevistand um paciente com cancro gástrico ou colónico. Em todas as análises, havia uma relação dose-resposta entre o número de cigarros fumados e o risco de cacnro do pulmão. Isto foi publicado em 1950  no British Medical Journal (BMJ). Em 1951, Doll e Hill realizaram um estudo de coorte prospectivo de 60 000 médicos constantes dos registos médicos, que foram recrutados através de uma carta publicada no BMJ. Foram recebidos 40 000 respostas e, nos dois anos e meios seguintes ocorreram 789 mortes, incluindo 36 por cancro do pulmão. Dolle Hill encontraram um aumento significativo no risco de cancro do pulmão com o aumento significativo no risco de cacnro do pulmão com o aumento do consumo de tabaco. Notaram, contudo, que os dois únicos médicos que definitivamente morreram por fumar, tinham morrido após pegar fogo às suas camas enquanto fumavam na cama. Esta relação foi mantida numa actualização do estudo inicial em 1993, que agora inclui 20 000 mortes: 883 por cancro do pulmão. O risco relativo por fumar 25g de tabaco por dia foi 20 vezes superior.
Resultados semelhantes foram reportados no inicio dos anos 1950 nos EUA por Ernst Wynder, um estudante de Medicina, e por Evarts Graham, um cirurgião torácico, que publicaram, no Journal of the American Medical Association, um trabalho intitulado “Fumar Tabaco como um Factor Etiológico Possível no Carcinoma Broncogénico: Um estudo de 684 Casos Provados”. O Evarts, um fumador inveterado, não fez caso das suas próprias descobertas e morreu de cancro do pulmão.



N
Tabaco 1g/dia
Tabaco 15g/dia
Tabaco >25g/dia
Mortes por cancro do pulmão

36

0,4/10,00

0,6/10,000

1,1/10,000
Total de mortes
789
13/10,000
13/10,000
16/10,000

Adaptado para o blog por Mark Simões

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