sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Leucemia mieloblástica aguda (leucemia mielóide aguda)


Esta doença é causada por uma transformação cancerosa num neutrófilo em divisão, um tipo de glóbulo branco fabricado na medula óssea. A célula anómala, ou leucémicas, multiplica-se de modo descontrolado. Produzindo gradualmente grande número de células leucémicas, as quais continuam a multiplicar-se do mesmo modo. À medida que o seu número aumenta, as células começam a invadir a medula óssea, diminuindo a produção não só de neutrófilos mas também de outras células produzidas nesse meio – incluindo glóbulos vermelhos e plaquetas.
Eventualmente, os neutrófilos espalham-se na corrente sanguínea, onde o seu número se torna cada vez maior. Invadem, então, vários órgãos e tecidos, em particular os gânglios linfáticos, o baço e o fígado, que aumentam de volume.

Quais são os sintomas?
Os sintomas principais são: resistência diminuída às infecções (especialmente da boca e garganta), úlceras do lábio da boca, maior tendência para as esquimoses e hemorragias, e anemia, expressa por palidez, cansaço, falta de ar e palpitações cardíacas.
A doença ocorre muitas vezes subitamente, com agravamento progressivo dos sintomas por um período de uma ou duas semanas; com menor frequência, estes sintomas vão aparecendo gradualmente durante dois ou três meses. Eventualmente os idosos apresentam uma leucemia «arrastada», com início muito gradual da doença.

Qual a frequência do problema?
A leucemia mieloblástica aguda é muito rara. Na maioria, os doentes já passaram dos 60 anos.

Quais os riscos?
Não há cura para a doença, a qual, se não for tratada, é fatal dentro de semanas. Nalguns casos, a leucemia apresenta evolução de tal modo rápida que a morte ocorre em poucos dias, mesmo antes de se ter iniciado o tratamento. Contudo, o tratamento moderno possibilita uma remissão bastante razoável dos sintomas, por vezes por anos.

Que deve fazer-se?
Qualquer indivíduo que apresente os sintomas descritos deverá consultar o médico sem demora. Depois de um exame clínico, o médico recolherá sangue e talvez uma amostra de medula óssea (biopsia) para análises laboratoriais. Outras provas laboratoriais serão necessárias se se suspeitar de leucemia mieloblástica aguda.

Qual o tratamento?
Logo que haja confirmação do diagnóstico, o doente ingressará no hospital e ser-lhe-ão feitas transfusões de sangue, incluindo transfusões especiais de plaquetas para impedir as hemorragias e as esquimoses. A base de tratamento é a combinação de medicamentos – em primeiro lugar esteróides e antibióticos petentes em doses elevadas para aliviar os principais sintomas.
O tratamento da leucemia em si é feito através de drogas citotóxicas (anticancerosas). Estes medicamentos ajudam à eliminação das células leucémicas da medula óssea, mas, por efeito secundário, destroem igualmente em grande número de células normais, de uma medula já muito espoliada. Uma vez destruídas as células leucémicas da medula, são necessárias pelo menos duas semanas para que um número considerável de células sãs comece a re-habitar a medula e eventualmente entre em circulação na corrente sanguínea. Este período de baixa contagem celular pode ser altamente perigoso para o paciente. Se necessário for, o indivíduo deverá ser sujeito a cuidados intensivos, incluindo precauções especiais para impedir alguma infecção, e mais transfusões de eritrócitos e de plaquetas.
Quando o período crítico tiver passado, o estado do paciente apresenta uma melhoria acentuada. Num período compreendido entre as três e as doze semanas após o início do tratamento todos os sinais da doença terão desaparecido, e a leucemia está no que se chama «em remissão». O doente estará já então, em geral, suficientemente bem para deixar o hospital. O tratamento ulterior, com medicação em regime ambulatório, será feito com intervalos de quatro a seis semanas, por um período de cerca de um ano para manter a doença sob vigilância. Mas, quase sempre, a leucemia aparece de novo e o tratamento ulterior revela-se ineficaz.

Editado para o blog por Eunice Tomé

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Quimioterapia

A descoberta de Fármacos
           
As origens da quimioterapia para o cancro assentam no uso de guerra biológica durante a Primeira Guerra Mundial, descrita de forma bela mas triste no poema de Wilfred Owen, “Dulce et decorum est”. Após o extenso uso de gás de cloro na guerra de trincheiras, o exercito alemão libertou pela primeira vez o gás mostarda em Ypres, na noite de 12 para 13 de Julho de 1917. O gás mostarda tinha sido sintetizado em 1854 por Victor Meyer e descobriu-se que era um vesicante em 1887. Como arma de destruição maciça, o gás mostarda, ou Yperite como era conhecido na altura, tinha as vantagens sobre o cloro de necessitar de doses mais pequenas, de ser praticamente inodoro e de permanecer activo nos solos durante semanas. De entre as mortes provocadas por gás no exercito britânico, de 1914 a 1918, o maior número foi devido ao gás mostarda. A exposição ao gás mostarda provoca um eritema grave com formação de bolhas e conjuntivite, seguido por lielossupressão cerca de 4 dias depois. Durante a Segunda Guerra Mundial, o único uso do gás mostarda resultou num autogolo, quando a Luftwaffe afundou o USS John Harvey ao Laro do porto de Bari, no Sul de Itália, em 1943. O navio carregava 2000 bombas M47A1 contendo um total de 100 toneladas de gás mostarda, e os marinheiros americanos que sobreviveram ao incidente desenvolveram conjuntivite e bolhas na pele, seguidas por uma diminuição abrupta nas contagens de células brancas, como documentado pelo cirurgião naval, o Coronel Stewart Alexander. Entretanto, na Universidade de Yale, Alfred Gilman e Louis Goodman estavam a usar a mostarda nitrogenada (mecloretamina), que é muito semelhante, inicialmente em modelos murinos de linfoma. Em 1944, o primeiro paciente com linfossarcoma (Linfoma não-Hodgkin de alto grau) foi tratado, e apesar de o Sr. JD, um ourives de 48 anos, ter conseguido uma remissão temporária do seu tumor, morreu mais tarde de insuficiência da medula óssea.
O desenvolvimento subsequente da quimioterapia, após este achado fortuito como um subproduto da guerra biológica, deve muito à sorte e tentativa e erro, mais do que ao planeamento. Uma feliz descoberta dói feita por acaso por Barnett Rosenverg um médico da Universidade do Estado do Michigan, em E.coli, usando eléctrodos de platina num meio líquido. Rosenberg descobriu que as bactérias paravam de se dividir mas continuavam a crescer, formando bactérias até 300 vezes maiores que o normal. Descobriu-se que isto era devido à cisplatina, um produto dos eléctrodos de platina, que estava a interferir com a replicação do ADN. No final dos anos 1960, tinham sido identificados vários fármacos citotóxicos de fontes naturais. Em 1971, o presidente Nixon, estando a perder a guerra do Vietname, declarou guerra ao cancro, assinando o Cancer Act e estabelecendo um programa de descoberta de fármacos no Instituto Nacional de Cancro. Este projecto analisou milhares de químicos naturais na procura de potenciais agentes citotóxicos. Só pelos anos 1990 é que emergiu o fabrico racional de fármacos para atingir as características conhecidas relacionadas com os tumores. Exemplos disto incluem o trastuzumab, um anticorpo monoclonal produzido contra o erbB2/neu/Her-2 no cancro da mama, e o imatinib, que inibe o local de ligação ao ATP da proteína de fusão brc-abl na leucemia mielóide crónica.


Adaptado para o blog por Mark Simões

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Leucemia:


A leucemia é um cancro que afecta os glóbulos brancos. Normalmente, o número de glóbulos brancos produzidos está em equilíbrio com os que vão morrendo, de tal modo que há sempre glóbulos brancos em quantidades suficientes no organismo como defesa contra as infecções. Na leucemia, uma das células destinadas a reproduzir-se como um glóbulo branco divide-se de modo súbito e extraordinariamente rápido, produzindo outras células anormais. O resultado desta superprodução é a disseminação através do organismo de glóbulos brancos anormais em elevado número, interferindo com funções vitais do corpo.
Há dois tipos fundamentais de leucemia: a leucemia linfática, que afecta as células chamadas «linfócitos», e a leucemia mielóide, que afecta os neutrófilos, produzidos na medula óssea. Tanto a leucemia linfática como a mielóide podem ser agudas ou crónicas. Se não houver tratamento, a leucemia aguda pode conduzir à morte dentro de semanas, persistindo a leucemia crónica por um período até 15 anos.
A leucemia linfoblástica aguda atinge primariamente as crianças. Os três tipos de leucemia aqui tratados atingem principalmente os adultos.

Drica Moraes
A actriz brasileira sofreu de leucemia, passando por vários tratamentos de quimioterapia e por um transplante de medula. Tendo estado cento e vinte dias internada, não podendo manter contacto pessoal  com ninguém, uma vez que tinha as suas defesas a zero.
Editado para o blog por Eunice Tomé

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Algumas perguntas frequentes do cancro

O cancro é contagioso?
Não. O cancro não é uma doença contagiosa.
Como explicar, então, vários casos de cancro na mesma família?
Alguns tipos de cancro têm características genéticas e podem, portanto, ter um comportamento hereditário.
Como saber qual é o risco que meus familiares têm de desenvolver cancro?
Este risco só pode ser definido para os tipos de cancro com comportamento hereditário bem determinado. Nestes casos, o seu médico pode lhe informar qual é este risco.
Existe algum risco de eu transmitir aos meus familiares a radiação que eu recebo durante a radioterapia?
Não. O paciente em tratamento não emite radiação.
O meu médico sabe quais os medicamentos mais indicados para o meu tratamento?
Existe uma vasta literatura médica a respeito de cada tipo de cancro. Analisando estes estudos e utilizando a sua experiência clínica, o médico tem como definir o melhor tratamento para cada paciente.
Posso ficar infértil (estéril) com o tratamento?
Alguns tratamentos podem causar infertilidade. Hoje em dia, existem algumas formas de manejar esta situação. Fale com seu médico sobre isso.


A respeito da quimioterapia
O tratamento dói ou causa algum tipo de sofrimento?
A infusão da quimioterapia não é um processo que cause dor, quando feito por profissionais capacitados. Alguns medicamentos podem causar irritação nas veias dos braços, com desconforto local durante e após a infusão. Mas, nestes casos, são tomadas medidas para minimizar o problema.
Posso usar bebidas alcoólicas durante o tratamento?
Em geral, não é aconselhável, dado o risco de interacções medicamentosas e de alterações no metabolismo de algumas drogas.
Posso viajar?
Sim, desde que tenha à mão o contacto do seu médico e que haja algum hospital próximo para atendimento de urgência, se necessário.
Posso apanhar sol e ir à praia?
Algumas componentes da quimioterapia deixam a pele mais sensível à acção da radiação solar, o que chamamos de "fotossensibilidade". Portanto, deve-se evitar a exposição excessiva, não sendo aconselháveis idas à praia ou à piscina. Nas outras situações, basta o uso de protector solar, chapéu ou boné etc.
Posso pintar os cabelos? E usar desodorizante, perfume etc?
Os produtos podem acentuar a queda de cabelo, mas não existe uma contra-indicação formal ao seu uso. Não há problemas quanto ao uso de desodorizantes, perfumes e afins. Para as pacientes com cancro da mama que foram submetidos a cirurgia para serem retirados os gânglios linfáticos das axilas (dissecção axilar), sugere-se evitar desodorizantes com base alcoólica, devido ao maior risco de desenvolvimento de alergias no local e, portanto, de infecção.
Posso trabalhar normalmente?
Sim, desde que se sinta apto para tanto.
Posso praticar algum tipo de actividade física?
Sim, desde que não existam outras contra-indicações médicas e caso se sinta bem-disposto para isso.
Posso praticar  sexo normalmente?
Sim. Para as mulheres em idade fértil, é fundamental o emprego de algum método contraceptivo, uma vez que é extremamente desaconselhável engravidar durante o tratamento com quimioterapia, devido aos riscos para o feto em formação.
Preciso de estar em jejum para receber as medicações da quimioterapia?
Não. É até aconselhável fazer uma refeição leve antes. Durante a infusão dos medicamentos (o que, dependendo do esquema proposto, pode levar algumas horas), não há problemas em ingerir alimentos.
Preciso de fazer alguma dieta especial por causa da quimioterapia?
Não. O tratamento em si não impõe nenhuma restrição alimentar, a não ser que surjam efeitos colaterais, como náuseas ou diarreia. O importante é atentar para a higiene no preparo dos alimentos, devido à baixa de imunidade provocada pelo tratamento e ao consequente risco de infecção.
Posso fazer tratamento dentário durante a quimioterapia?
Não é aconselhável. Se possível, adie para depois de terminar o período de quimioterapia, já que a mucosa oral é uma área rica em bactérias e, portanto, com maior risco de infecção, sobretudo após procedimentos cirúrgicos ou de manipulação da boca.
Posso me vacinar durante o tratamento?
Depende. A vacina da gripe, por exemplo, uma vez que contém vírus vivos, atenuados, está contra-indicada. O emprego de outros tipos de vacina deve ser discutidos individualmente com o seu médico.
Preciso de estar repousado?
Não. O repouso deve ser proporcional à fadiga experimentada pelo paciente.
O meu cabelo vai cair com o tratamento?
Isso varia. A queda de cabelos (alopécia) ocorre em graus diferentes de acordo com o medicamento. Alguns agentes da quimioterapia causam alopécia no primeiro mês de tratamento enquanto outros não provocam quase nenhuma queda de cabelo ao longo de todo o período de quimioterapia.
Quanto tempo demora para que o meu cabelo cresça de volta?
Em geral, 3 a 4 semanas após o fim do tratamento.
Quais são os medicamentos que posso tomar junto com a quimioterapia?
Deve usar somente aqueles medicamentos prescritos pelo seu médico. Em geral, não há contra-indicação se continuar com as medicações de uso habitual para o controle de diabetes ou hipertensão, ou analgésicos simples, como Dipirona ou Paracetamol. De qualquer forma, é importante que o seu oncologista saiba quais são os outros medicamentos que toma, para se minimizar o risco de interacções medicamentosas.
O que é quimioterapia adjuvante?
É aquela empregada como terapia complementar após tratamento cirúrgico inicial, como nos casos de câncer de mama ou do intestino grosso (cólon).
O que é a quimioterapia paliativa?
É aquela empregada com o intuito primário de conter a evolução e controlar os sintomas provocados pela doença, mantendo ou melhorando a qualidade de vida do paciente, enquanto melhora também a sua sobrevivência.
O que é a quimioterapia neoadjuvante?
É aquela empregada antes de uma modalidade de tratamento local, como a cirurgia ou a radioterapia, com o objectivo de reduzir o tumor e a melhor o resultado final.
Eu vou me sentir mal com o tratamento?
Não necessariamente. É importante entender que, apesar da quimioterapia ter efeitos colaterais previsíveis, as reacções são individuais, variando de intensidade de paciente para paciente. Algumas pessoas não apresentam qualquer sintoma significativo provocado pelo tratamento, e não alteram em nada o seu estilo de vida. Além disso, hoje dispomos de medicamentos contra náuseas, alergias etc., que, com um maior conhecimento a respeito dos agentes da quimioterapia, diminuíram bastante os efeitos adversos esperados.
O que é um cateter para a quimioterapia?
Nos pacientes com acesso venoso periférico precário (veias dos braços muito finas ou frágeis) ou aqueles que receberão medicamentos irritantes para as veias, está indicada a colocação de um cateter venoso central totalmente implantado e de longa permanência. Para o colocar é necessário um cirurgião qualificado, com anestesia local e desconforto mínimo para o paciente, através de uma pequena incisão no tórax. Em geral, pode ser usado ao longo de todo o tratamento e após, dependendo de manutenção mensal, feita pela equipa de enfermagem.
Se eu não me sinto mal com o tratamento, isto significa que ele não está a fazer efeito?
De forma alguma. O efeito positivo do tratamento é independente dos seus efeitos colaterais.
Como é que vou saber se o meu tratamento está a dar resultado?
O seu médico, por meio de dados da avaliação clínica feita durante as consultas e de exames complementares (métodos de imagem, sangue etc.), será capaz de determinar isso. A frequência com a qual devem ser realizados exames como tomografias, RX e outros, varia de caso para caso.

Adaptado para o blog por Mark Simões